Segunda, 26 Junho 2017 09:21

A virulência do desemprego

A despeito de pequenos sinais de melhora no desemprego, a recuperação será lenta

Por trás dos dados brutos do desemprego, por si sós suficientemente expressivos para mostrar a dramaticidade do quadro social que compõe a crise em que o País está mergulhado, há outros que revelam como a falta de trabalho e de renda afeta de maneira mais impiedosa determinados segmentos da população e como, a despeito de pequenos sinais de melhora, a recuperação será lenta.

Embora a taxa de desemprego no País tenha diminuído discretamente entre o trimestre encerrado em março e o período de três meses terminado em abril, de 13,7% para 13,6%, praticamente não se alterou o número de brasileiros que procuram, mas não encontram uma ocupação remunerada. São 14 milhões de pessoas nessa situação, de acordo com a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em 2017, a taxa de desemprego vem se mantendo, em média, 3 pontos porcentuais acima da registrada no ano passado. Mas não é apenas sua ascensão nos últimos dois ou três anos que preocupa. Também tem aumentando a taxa de permanência no desemprego, isto é, o tempo que o trabalhador fica sem ocupação mesmo procurando regularmente uma atividade remunerada, como mostrou estudo sobre o mercado de trabalho publicado na mais recente edição daCarta de Conjunturado Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), relativa ao segundo trimestre de 2017. O estudo constatou que, ao longo do primeiro trimestre deste ano, 48% dos trabalhadores que estavam desocupados não conseguiram nenhuma colocação no mercado de trabalho, 4 pontos porcentuais mais do que em igual período de 2016 (44%) e bem maior do que a taxa registrada antes do início da crise econômica (35%).

Há outros aspectos do estudo que mostram uma deterioração do mercado de trabalho ainda mais perniciosa do que a apontada pelos dados gerais. A grande maioria dos desempregados (70%) é composta por trabalhadores com idade entre 18 e 39 anos. Metade dos que procuram emprego e não encontram tem ensino médio completo ou incompleto. São trabalhadores que têm de 10 a 12 anos de estudo.

Já entre os trabalhadores que deixaram a inatividade – e, por não terem atividade remunerada e não a procurarem, estavam excluídos da população economicamente ativa –, passaram a procurar emprego, mas não o encontraram, cerca de 50% têm 14 e 24 anos e aproximadamente 35% cursaram o ensino médio.

Em outro estudo divulgado anteriormente, pesquisadores do Ipea haviam constatado que a taxa de desemprego entre os jovens de 14 e 24 anos havia subido de 20% em 2015 para 27,2% em 2016. Esses números mostram que o desemprego é particularmente acentuado entre jovens em geral com bom nível de escolaridade. É justamente a parcela da população da qual o País dependerá dentro de alguns anos para continuar a progredir.

No caso dos trabalhadores com menor nível de instrução que estavam desocupados, mas conseguiram uma ocupação, 35% têm entre 25 e 49 anos e 43% têm apenas o ensino fundamental completo. Em razão da baixa escolaridade, grande parte desse contingente (73%, praticamente três quartos dele) foi absorvida pelo mercado informal, que, com a crise, voltou a crescer.

É possível que o mercado de trabalho tenha parado de piorar. No trimestre móvel encerrado em abril, os rendimentos reais registram aumento de 2,7% em relação aos de um ano antes, o que fez a massa salarial real crescer 1,1%.

No primeiro trimestre de 2015, o País tinha 7,9 milhões de trabalhadores sem emprego. Desde então, o número de desempregados cresceu quase 80%. Mas, depois de ter aumentado 27% em relação ao ano anterior, a taxa de desemprego pode ter se estabilizado ou até começado a diminuir, ainda que muito lentamente.

A persistência desse processo de melhora está, obviamente, condicionada à superação da crise política e ao andamento das reformas de que o País necessita.

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